quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Água da Pala

Água da Pala; um local selado pela natureza de forma implacável ao longo de quase 1800m. 


Bem cedo deixei a confusão do Agosto Geresiano para trás( ver post anterior) e dirigi-me com antecipação, à entrada da longa Corga da Água da Pala. Quem olha do estradão apenas vê uma pequena porção, a não ser que avance umas boas dezenas de metros, que já ali, sinalizam o filme que se irá repetir, durante os km de extensão até ao cimo,  mas ainda em versão "soft": progressão muito lenta. O topo da Corga? Escondido no nevoeiro.



Durante algum tempo, escolhi o lado esquerdo da Ribeira, pois me parecia mais viável para progredir, apesar de que, dada a, imagino, falta de circulação de pessoas neste local, a vegetação é absolutamente dominadora e, posso dizer, que durante toda a incursão, não consegui avistar um único sinal de presença humana, embora, me possa ter passado a poucos metros algo escoondido...


Deste lado esquerdo, as paredes da corga já se começavam a verticalizar, pelo que, desci para o leito da ribeira. O mato é muito alto e variado, mas consegui chegar à ribeira, na esperança de conseguir avançar de pedra em pedra, o que aliás, era uma das minhas preferidas brincadeiras de criança de 6 anos, quando ía acampar com os meus pais para o antigo parque da Albergaria. 

Felizmente, este percurso muito interessante, fez-se bem; lentamente mas em segurança durante centenas de metros, abrigado pela densa e luxuriante vegetação, enquanto ía caindo morrinha. Alguns trechos tinham água corrente e outros não. A ribeira desaparecia... para voltar mais à frente; caprichos da água. Várias ocorrências de troncos caídos, proporcionaram obras de arte em exposição nesta galeria natural.
Sendo que o meu interesse também era conhecer as várias facetas da corga, decidi sair para a face direita e tentar agora, progredir junto à parede bem mais acima da linha de água. Sair ou entrar, nunca é fácil porque a mancha verde é tão bela, quanto cerrada. A verticalidade é agora uma presença de respeito e mesmo aqui, é necessário, avaliar frequentemente, o melhor local para avançar, seja pela perigosidade ou pela vegetação. 




Avisto agora a cascata da Água da Pala. Ainda funciona apesar deste verão seco. É uma cascata alta e que, para se ver de perto, e de baixo para cima, obriga o caminhante a entrar no seu domínio vindo pelo leito da ribeira; acredito que essa visão seja monumental apenas haja mais água em circulação. A queda de água para o chão é quase directa desde o topo e deverá ter uns 15m. Não muito diferente da Cascata de Pincães. Eu estava acima e aproximei-me para a apreciar de perto. Tudo ali já assusta. Paredes verticais por todo o lado e para filmar e fotografar a dita cuja, não foi fácil. A vista do ponto de queda da água no cimo da cascata é vasta, verde, imponente nas suas paredes e ao fundo, a encosta do sol. Efeitos de luz que por vezes rompiam as nuvens e o nevoeiro davam ânimo ao olho fotográfico. 



Neste ponto, apesar de mais de metade da corga estar já para trás, avizinha-se a tarefa mais difícil e, pelo menos para mim, aquela que viria a revelar-se impossível, neste dia cinzento e húmido. Pelo menos esta cobrinha, estava tranquila a saborear a ausência humana, até que eu cheguei...

Sendo que o leito do rio era agora bem mais estreito, decidi continuar acima dele e tentar subir para fora da corga pelas paredes à direita. Se fosse pelo meio da corga, era uma tarefa de muito mato cerrado, algo que me pareceu inviável. Do lado desse mato que cobre a parte final e estreita da corga, erguem-se paredes abruptas, que não permitem qualquer dúvida.  As fotos do Google earth, estão desactualizadas; neste ponto,  a mancha verde é sem falha. Neste dia húmido, a zona onde me encontrava escorria das água das rochas frequentemente, e agora, o meu desejo era sair da corga para cima, mesmo sem ser pelo seu final natural, ou seja, ao longo da ribeira. Fiz várias tentativas de escalar as paredes, mas em vários pontos, após análise e ponderação concluí que o risco era já elevado e acabei por ter de desistir desse propósito e optar por regressar de volta ao estradão. Várias vezes me encontrei na situação de ter de tirar a mochila e atirá-la, para poder progredir, dado o apoio ser apenas de alguns cm o equilíbrio ser perene. Para baixo, muitos metros de queda eram uma possibilidade.
Tive de inventar músculos, rastejar, saltar e deslizar, mas  tudo correu bem; só faltou fazer pára-pente. Devo referir que sem a minha fiel vara, não creio que tivesse tido sido a mesma coisa, apesar de tudo o percurso que fiz. Infelizmente, voltar para trás tornou-se realidade, mas as vistas deste local são assombrosas, e testemunhar a beleza desta enorme mancha verde de árvores e plantas autóctones, intocadas pelo ser humano e pujantes na sua realidade, foi para mim um privilégio, tal como o teste pessoal, da descoberta interior. 


Agradeço à minha, vozinha interior que sempre me acompanha, guia e protege e à minha vara, que tive a felicidade de encontrar e preparar, num dos ramos à beira rio em Várzea Cova. Sem eles, não seria a mesma coisa. 


Conclusão: pensem 5 vezes antes de adentrar este longo recanto do parque. 20 vezes, se estiver dia húmido e cinzento. 

Abraços 

2 comentários:

Lírio disse...

Só essa adrenalina da tentativa de descoberta, já valeu a pena ;)
Quem passa por situações parecidas é que compreende a fantasia tão mágica que nos envolve, e o facto de estarmos em um local quase só nosso, é qualquer coisa que nos ultrapassa!!
Adorei viver um pouco a tua aventura, ainda que virtual para mim :)
Beijinhos

Alberto Pereira disse...

Boas camarada;

Um dia havemos de lá voltar...
Só para tirar algumas dúvidas!

Bela aventura!