quarta-feira, 26 de junho de 2019

SERRA DO GERÊS "À LA ASTURIANA"

Parece que depois de muitos anos a calcorrear o Reino do Granito Infinito, se torna cada vez mais difícil, traçar percursos satisfatórios. Não foi o caso neste dia de comunhão e aventura com a pequena mas infinita, dura e singularmente bela, Serra do Gerês. 

A ideia lançada pelo meu camarada Alberto Pereira era rumar de Pincães até ao Corgo de Valongo e bem lá metidos, trepar caminho directo para as Quinas de Arrocela, regressando por Porta Ruivas. Só assim, já estava bem...




Mas quando um diz mata...o outro diz esfola. Mas vamos por partes perceber o que aconteceu nestes 24km e mais de 1400m de desnível ascendente acumulado que deixaram estes lobos, plenamente saciados...

PARTE I

O dia estava cinzento mas agradável, pouco vento e aqui e ali o sol a espreitar.  Desde o Vale das Traves até ao Curral de Palma e Valongo é uma linha quase recta e muito transitável seguindo o Rio de Escalheiro, e depois no alto, exalando o ar dos pulmões, somos confrontados com uma das melhores vistas da serra, mesmo de frente para Valongo e tanto, tanto mais. Um local de contemplação e deleite a premiar a subida, desde os lados de Pincães. 

Agora a descida é inclinada até ao famigerado estradão que leva ao Porto da Laje, mas bastante desimpedida.
Podemos considerar o fim da descida, como o termo da primeira parte desta actividade serrana.




É de Pitões...metade para cada um (lei da serra: 45 b) "Não comerás sozinho uma bola de Pitões")





 Objectivo à vista




PARTE II

Agora adentramos o Corgo de Valongo, guardado de forma espectacular, por paredes muito altas de pálas e declives de 250/300m, em alguns casos de inclinação vertical e até negativa. O curral é bonito e o rio canta com boa voz. O forno está muito danificado. O ambiente é mágico e proporciona  a sensação de estarmos completamente isolados na natureza, mas ao mesmo tempo abraçados por uma energia poderosa que nos preenche a alma e nos carrega um passo à vez, com sorriso rasgado, mesmo perante os desafios.
Chegados ao ponto de derivar à direita e nos deixarmos de passear no vale à beira rio, está na hora de trepar por ali acima, vencer o desnível enorme e dar a nós próprios o prémio de nos sentirmos um pouco mais ibéricos nesta montanha pequena mas grandiosa.

























A subida foi espectacular e lá mais para cima, uma bela água límpida que despenhava lá de cima, permitiu-nos refrescar e saborear  deste néctar do cálice da generosidade. Agora mais um pouco e estávamos no topo, prontos para ir à ponta das Quinas e de lá dar novamente de beber às vistas que já tanto tinham visto hoje. Sobe e desce constante.

A segunda parte do dia acaba aqui...















e chegados lá acima...
















PARTE III

Agora seguir a longa cumeada até derivar no topo da Corga de Valongo à esquerda e depois para  Porta Ruivas. Pelo meio, à beira regato, o almoço e descanso. Depois, levantar, arrumar a mochila, pegar no bastão botas ao caminho longo até ao curral... 
Depois de mais contemplação, desta vez na direcção das Quinas de Arrocela, do outro lado do vale, de ver o curral e o abrigo geo-referenciado, começamos a descida que nos deveria levar até ao estradão. Caminhos cada vez mais desusados, duros e que a certo ponto antes de virarmos à esquerda para baixo onde o estradão estava...algo sucedeu nas mentes dos anões, quando um desafio e desejo se levantou, ergueu a sua cabeça e falou mais alto. 












O espírito ibérico e da subida ao El Espigüete, estava à espreita, e portanto vamos lá investigar e resolver aquela bela cumeada ali a olhar para nós...



PARTE IV

Sem sabermos se a cumeada dava passagem para a frente, ou se a certo ponto teríamos de voltar para trás, lá fomos até ao primeiro e segundo altos em bom contentamento por descobrir mais este recanto incrível da serra. Agora...diante de nós, o obstáculo para continuarmos era grande e fundo. Mas devagar e com cabeça esclarecida fomos por ali abaixo por vezes perdendo a dignidade e ponto o rabo no chão, até que batemos com as botas no chão deste colo que divide a cumeada. Agora tínhamos de trepar com dificuldade e cuidados grandes a enorme inclinação que nos ergueria novamente à crista desta bela onda, onde chegados, pudémos ver a vista rara para o vale do Rio do Porto da Laje e arredores.
Daqui para baixo a grande descida até ao estradão era inclinada mas mais acessível que as etapas anteriores. 
Lá em baixo, um belo banho revivificador estava à nossa espera numa piscina natural, onde até o sol nesta altura nos premiou.












 Vista para a esquerda(em cima)
 e para a direita


Visto assim até parece fácil




La piscina



PARTE V

Regresso ao carro, pelo caminho das cabras que está cada vez mais tapado, e que sendo parte do Trilho da Vezeira, deveria talvez estar mais cuidado. Imperam as silvas, tojos, fetos, etc ´
O dia estava ganho mas este pedaço até ao Vale das Traves ainda rende bem. 
E pronto, chegados ao carro começa a chover...tudo calculado. Siga para umas fresquinhas no humilde bar de Pincães.








EPÌLOGO

Sem dúvida umas das melhores jornadas que fiz, e que reconheço ser impossível convir as minhas sensações adequadamente ao leitor. Mas fica o desabafo para memória futura. É impossível ao admirar este mundo e perceber que nele todas as coisas, incluindo nós próprios, obedeçemos a leis comuns e bem traçadas, não nos sentirmos humildes perante tamanha perfeição, como parte de um todo e gratos por existirmos.



Abraço Alberto.





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