domingo, 26 de agosto de 2018

MAGRO, RASO, GORDO...BELEZA A CÂNTAROS.

Partindo do Covão d´Ametade(1393m), o objectivo era conquistar os três cântaros num mesmo dia: Magro(1928m), Raso(1916m), e Gordo(1875m). Pelo meio, ainda foi possível alcançar o ponto mais alto de Portugal continental, na Torre. 

Foi possível fazer isso num trilho muito exigente, e apenas recomendável a praticantes com experiência. Com desníveis e declives grandes, e terreno muito acidentado em várias partes, cumeadas, com mato e alguns passos aéreos impróprios para pessoas com vertigens, pode dizer-se que foi um trilho de encher a barriga de qualquer montanheiro exigente e, perto do final ainda com direito a refresco na Lagoa dos Cântaros.




Estava algum calor, mas, foi um dia fantástico para relembrar por muito tempo. Se a nossa doença é a falta de montanha, hoje a medicação foi forte.

Objectivo conquistado, resta contar um pouco da história, no sentido de dar a conhecer a beleza que há nestas paragens do estranhamente chamado de "Parque Natural da Serra da Estrela". 

Percurso: Covão da d´Ametade, Covão Cimeiro, Cântaro Magro, Covão do Boi, Cântaro Raso, Torre, Cântaro Gordo( cumeada e descida directa para a cumeada sobranceira à Lagoa dos Cântaros). 

O Covão d´Ametade é um belo local arborizado, atravessado pelo ainda jovem rio Zêzere, dotado de algumas estruturas abandonadas e pontilhado por alguns campistas. 


Aqui começou a caminhada em direção ao Covão Cimeiro, outro local magnífico mas de personalidade diferente: um aconchego ao caminhante, que se vê abraçado por altas paredes e um prado belíssimo atravessado por ribeiro tímido nesta altura de verão, e onde seguramente o rio Zêzere encontra forças ali perto para se assumir como tal. 








Este covão fica no sopé do Cântaro Magro, esse emblema da Serra da Estrela, que é possível avistar olhando bem para cima a cerca de 300m na vertical...(em cima)... impressionante paredão. Esse cume é o nosso primeiro objectivo. Duas dificuldades nos esperam: o desnível até à base do cume do cântaro, junto ao estrada nacional, e a trepadela ao cume. Estas duas tarefas e cenários são muitos semelhantes a outras encontradas nas Montanhas Palentinas no ano passado, ressalvando as devidas proporções (em baixo)









A trepadela final ao cume é um preço bem pago. As vistas, um prémio ao esforço empregue, uma delícia contemplar o mundo de lá de cima de forma vertiginosa. Mas não olhem muito para a direcção da Torre porque aí, verão objetos estranhos...

A subida e descida do cume, não é difícil para quem esteja habituado às montanhas, mas cuidado...estranhamente, os carros podem parar apenas a uma dúzia de metros do início da subida ao cume...ou seja, qualquer pessoa tem acesso pelo menos a tentar a subida final.  Mesmo com tempo seco exige-se atenção máxima...









Já no cume do emblema desta serra, as vistas são soberbas, um local especial...

 O Covão Cimeiro onde antes tinhamos estado, com zoom em cima, e sem zoom em baixo.

 Parte da cumeada do Cântaro Gordo...lá chegaremos.


 O Covão onde tudo começou (em cima sem zoom)(em baixo com)














Com o devido respeito, aquilo não é zona para turistas, aquilo é  montanha brava. Vários acidentes já por ali aconteceram (http://arquivo.desnivel.pt/editorial/2004-04-23.html) e a sinalização não avisa dos perigos. 

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Em direção ao belo Covão do Boi sem até ao momento por pé em alcatrão, para chegar sem dificuldade ao segundo cântaro, o Raso. Mais um banho de belas vistas. 






Daqui até à Torre, uma pequena caminhada com algum desnível onde lá chegados, comemos a merenda para preparar a segunda metade do dia. 




Nesta chegada à Torre é possível verificar a grande quantidade de lixo, espalhado pelo planalto, muito dele fruto das actividades de neve, que após derreter, revela o respeito que há pela natureza, ou seja: nenhum. Depois de subir até aqui pelo próprio pé e tendo visto a qualidade de tantas zonas que merecem ser preservadas e qualificadas no verdadeiro significado da palavra, e por isso comecei esta narrativa por usar o adjectivo "estranhamente", fico triste por ver o topo de Portugal continental esventrado por alcatrão, supermercados, restaurantes, estações de ski, e várias outras estruturas. No Covão Cimeiro, os restos de um carro despenhado desde a estrada nacional ali por cima, é um corpo estranho.  A Estrela poderia ser um santuário intacto, cheio de personalidade e vida selvagem...em vez disso apenas alguns nichos persistem, entalados entre vias de alcatrão percorridas por todo o tipo de gente, ruído de carros em alta velocidade, e pequenas barragens espalhadas um pouco por todo o lado. Vida selvagem praticamente não vimos, tirando uma pequena víbora já no final do dia. Aves, quase nada, e rapinas, tão comuns no PNPG e em outros parques, zero. É estranho que depois de conquistar 500m de declive, a estrada nacional esteja mesmo ali á beira dos últimos metros do Cântaro Magro...mas se calhar sou eu. Aqui ao lado em Espanha, parques naturais não faltam, e se algum tem estâncias de ski, muitos outros são realmente selvagens, mas isso são eles que têm muitos. Nós temos muito poucos e logo se devassa e esventra o santuário... tal como fizeram nas famigeradas Minas dos Carris na Serra do Gerês por ex.  Como dizia o meu camarada Alberto Pereira, até no outro Pico, o mais alto, nos Açores, é preciso pagar para subir...senhores governantes, acabem com Isso PF.

Sigamos para bingo...

Atravessando a zona sinistra das cadeiras rotativas das pistas de ski, mais lixo e vedações, finalmente começamos a pisar chão sagrado de serra limpa, admirando de outros ângulos os cântaros anteriores. 


 O Magro e o Raso em cima. O Gordo em baixo.



 Já perto do cimo do Gordo...

O cântaro Gordo, é uma cumeada que termina bem acima da Lagoa dos Cântaros. O acesso é complicado porque os trilhos estão meio tapados e há muitos blocos de pedra na base. A trepadela até à cumeada é um esforço recompensador, porque a sensação aérea da longa cumeada e as vistas espantosas são a razão de termos feito tantos km desde o norte do país. 






Incêndio de Seia ainda a terminar lá longe para os lados da Loriga.


No extremo este, é possível vislumbrar um princípio improvável de trilho que desce abruptamente, até á zona da lagoa em cerca de 200m de desnível muito acentuado. Contrariando o plano inicial, formos por ali abaixo à aventura e tudo correu bem...mais um pouco de adrenalina. 





Chegados à cota dos 1680, apareceu o mato para atrapalhar quem anda a trabalhar... Até quase ao fim não nos largou. 

Este recanto da Lagoa dos Cântaros, é muito bonito, e com o calor que fazia e o esforço feito até aí, inevitável saltar lá para dentro. Daí até quase ao fim, muito mato em zonas que claramente são pouco frequentadas, e os antigos trilhos vão sendo esquecidos, até um qualquer fogo, novamente os revelar. 










Resumindo e concluindo: um trilho pensado pelo Alberto Pereira, onde tirando o senão da infeliz zona descaracterizada da Torre, foi um dia feliz, um episódio montanheiro de se tirar o chapéu. Grande.

Obrigado aos meus camaradas Jorge e Alberto, pela amizade e partilha.
Obrigado especial à minha familia.

O treino foi top, venha o próximo.




Abraços e boas caminhadas.

1 comentário:

Alberto Pereira disse...

Mais uma maravilha! Trilhaço!!!

Obrigado e grande abraço!