sexta-feira, 5 de outubro de 2018

LOS URRIELES - DAY ONE - TORRE BLANCA

Ainda no fim da madrugada, a silhueta do km vertical, ergue-se imponente diante de nós, como uma primeira barreira para muitos intransponível. Não fora a existência do teleférico que em Fuente Dé, avança de 5 em 5 minutos os que quiserem saltar este obstáculo, geralmente para ir á estação superior ver as vistas ou, ir simplesmente passear até à cabana Verónica, terão de avançar um desnível absurdo em pouca distância. Esta segunda opção foi a nossa. Mochilas carregadas para um dia de actividade no incrível maciço dos Urrieles.




Começa a vida dura do caminhante apaixonado, tentando desbravar os desconhecidos caminhos do maciço central dos picos da Europa. O Pico da Padiorna de laranja garrido, dá os bons dias debaixo da lua prateada. O cenário está montado.





Aqui nas alturas do maciço não há rios, e fontes são muito escassas ou inexistentes, pelo que temos de ir prevenidos com líquidos em maior quantidade. Além disso, corda e capacete, ajudam a pesar a mochila. Siga...

Para subir o desnível de quase 1000m e entrar nos Urrieles, optamos pela via do Canal da Jenduda por ser bem mais difícil que o clássico do Hachero, que mais perto do fim da subida apresenta além de um obstáculo transponível apenas com ajuda de cordas, uma rampa muito íngreme de pedra solta bem mais exigente. De um lado e do outro do apertado estreito, estão as altas paredes deste portão de entrada. Esta é uma via que de certa forma abre as hostilidades para o resto do dia.













No fim da subida, somos recebidos pelos rebecos, em bom número que nos anunciam o abrir do livro das vistas maiores. Primeiro teste superado, fomos admitidos no reino das alturas. Deslumbrante. 







 O Palentino El Espiguëte(esse já cá canta:)






A partir daqui acabou-se a pouca cor verde que havia. Branco e cinzento debaixo do azul céu, serão as cores únicas até quase ao fim. 

O nosso objectivo deste dia é atingir com rota circular, o alto da Torre Blanca nos 2619m vértice das províncias de León e da Cantábria, e cume mais alto desta ultima. Até à cabana Verónica é um passeio de alguns kms por caminho muito tranquilo, rodeado de paredes imponentes. 

Ali chegados, encontramos o guarda, do refúgio que se encontra à maior altitude nos Picos da Europa. O Jorge, fica na cabana Verónica de maio a novembro e é de Leiria, pelo que foi agradável saber que estávamos um bocadinho na nossa casa. Alguma conversa depois, e visita às instalações, partimos para o trilho efectivamente duro... duro até ao fim. 








O terreno é de progressão lenta e que exige atenção permanente por causa das muitas simas e muita pedra solta, afiadas e declives altos. Os picos da europa, albergam algumas das simas mais profundas do mundo. A Sima de La Cornisa tem apenas a profundidade do ponto mais alto da Serra do Gerês, o nosso único parque nacional.














Mas isto é apenas o necessário para chegar ao princípio da subida para o ataque á torre. Aí o declive ganha significado, não permitindo doravante, falhas de concentração. 



A Torre Cerredo ao centro será o nosso assunto no terceiro dia

Chegados ao colo vertiginoso, antes da trepadela final, conhecemos um simpático francês já seguramente nos seus cinquentas, muito mais habituado a estas altitudes e que depois de ter estado sózinho no cume da Blanca, ía agora, via cumeadas até ao Tesorero... Nem é bom falar. No dia seguinte haveríamos de o rever. 




Do cimo da Blanca uma vista indescritível, estratégicamente boa para apreciar o maciço ocidental de El Cornión, o Lambrion, Cerredo, Bermeja, Arenizas, Vieja, Palentinas, enfim...


 O Lambrion à esquerda é o segundo mais alto dos Picos da Europa






 El Picu, à nossa espera para o segundo dia
 Peña Vieja, uma rampa de lançamento impressionante.






Descer é sempre especial, porque estamos sempre a olhar para o longínquo fundo onde queremos repousar. Agora, havia que fazer a ainda mais dura travessia até à Vega de Liordes, à sombra do Tiro Llago e Madejuno. Aquilo que nas cartas parece uma distância relativamente curta, no local transcreve-se em dificuldade máxima. Seria assim no sobe e desce sempre atentos aos buracos até esse recanto tão diferente que é o oásis da Vega. 





 Ao fundo as torres Palentinas. À esquerda o Curavacas e à direita o colosso Espigüete.











Aí, as vistas e as botas repousam, e o caminhante percorre largamente uma secção deslumbrante de paisagem idílica. 

 Vega de Liordes












O último pedaço do dia para perfazer esta rota circular, seria a descida dos Tornos de Liordes. Esta descida é, como desde a primeira do dia, na Jenduda, um obstáculo sério a quem não controle a vertigem. Além disso, extremamente longa e exigente, pois uma distração pode acabar por trazer o caminheiro muito rápidamente até Fuente Dé. Vai ser assim a vida nos picos nos restantes dias. 

 O princípio da descida para Fuente Dé, aqui ainda muito suave.

Por fim a chegada depois de um dia incrível. 

Aconselho a quem queira fazer esta mesma opção de percurso...muita reflexão pois as dificuldades exigem: boa orientação, controle da vertigem, capacidade de resistência física e psicológica. Aqui nos picos, a dificuldade não se mede em km, e foram quase 20 neste dia, e tampouco atrevo-me a dizer o declive enorme de quase 2000m. Ainda à pouco fiz 54km e mais do que esse declive. Aqui a equação apresenta uma outra variável: o tipo de terreno. 

Sem dúvidas um dos mais belos e exigentes trilhos que fiz...mas...isto foi o aquecimento para o segundo dia. 

Os anões vão descansar. Até amanhã. 

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